Por que em um Grand Slam de tênis, homens disputam cinco sets e mulheres apenas três?
A histórica campanha de Bia Haddad em Roland Garros na temporada 2023, reacendeu o entusiasmo dos brasileiros pelo tênis. No entanto, um questionamento persiste entre os fãs: por que as mulheres disputam seus jogos em três sets, enquanto os homens jogam melhor de cinco nos torneios de Grand Slam?
O tênis, criado no final do século 19 na Inglaterra com o Torneio de Wimbledon, realizado pela primeira vez em 1877, inicialmente era apenas masculino, com as partidas decididas em cinco sets. As mulheres foram autorizadas a competir sete anos depois, mas desde o início, os jogos femininos foram disputados em três sets, baseado na crença de que as mulheres não teriam a mesma resistência física que os homens.
Tentativa de alterar as regras
Tentativas de alterar essa regra surgiram apenas com a profissionalização do esporte. Entre 1984 e 1998, o WTA Finals, torneio de final de temporada da Associação de Tênis Feminino (WTA), teve suas decisões disputadas em cinco sets, embora apenas uma delas tenha chegado ao quinto set. Foi a primeira vez, desde o Campeonato Nacional dos Estados Unidos de 1901, que o formato de cinco sets foi aplicado em partidas femininas.
“É uma regra pouco testada e sempre se manteve a ideia de que o tênis feminino deve ser disputado em três sets e o masculino em cinco. A única entidade que pode mudar isso é a Federação Internacional de Tênis, e tal mudança demandaria uma série de estudos e requisitos”, afirmou o jornalista especializado José Nilton Dalcim.
Vale destacar que as partidas masculinas em melhor de cinco sets ocorrem apenas nos quatro torneios do Grand Slam (Wimbledon, US Open, Aberto da Austrália e Roland Garros). Em torneios menores, as disputas masculinas também são realizadas em três sets, devido ao desgaste físico e ao calendário apertado.
Historicamente, não houve movimentos significativos por parte dos homens para reduzir o número de sets jogados ou das mulheres para adicionar mais sets.
A diferença nos formatos já foi discutida no contexto da igualdade de premiações. Os Grand Slams pagam o mesmo valor para homens e mulheres, mas alguns torneios menores ainda têm diferenças. Em 2016, Novak Djokovic afirmou que os homens deveriam receber mais devido à diferença na arrecadação da ATP em relação à WTA.
“Eu as aplaudo por isso. Digo isso honestamente. Lutaram pelo que mereciam e conseguiram. Por outro lado, o mundo da ATP deveria lutar por mais porque as estatísticas mostram que temos muito mais espectadores nos jogos de homens”, comentou o tenista sérvio. “Essa é uma das razões pelas quais penso que deveríamos ganhar mais.”
Em 2019, Rafael Nadal foi questionado sobre a sugestão da tenista russa Victoria Azarenka de que os homens deveriam jogar no máximo três sets, assim como as mulheres. Na época, Nadal afirmou que os competidores masculinos estavam “felizes” com o formato de cinco sets, criticou o debate sobre premiações e sugeriu que os homens poderiam receber prêmios maiores.
“Estou um pouco cansado de pensarem que estamos contra as mulheres. Não estamos. Outra questão é quem vende mais, quem vende menos. Isso é um debate separado, não é sobre homens ou mulheres, é sobre pessoas. Se estou na mesma empresa que outro homem e desempenho melhor no meu trabalho, mereço ganhar mais, não importa se é uma mulher ou um homem”, disse Nadal.
A polonesa Iga Swiatek, adversária de Bia Haddad na semifinal de Roland Garros em 2023, também abordou o tema. Após vencer o torneio WTA 500 de Estugarda naquele ano, ela recebeu pouco mais de 100 mil euros (R$ 526 mil), enquanto Carlos Alcaraz, número dois do ranking masculino, ganhou 475 mil euros (R$ 2,4 milhões) pelo ATP 500 de Barcelona.
“Os Grand Slams já estão nivelados, o que é positivo, mas seria bom se a WTA focasse nessa questão. Não quero falar muito mais sobre isso, pois envolve negócios e às vezes política. Apenas acho que seria ótimo se nosso esporte fosse regido pela igualdade, especialmente porque fazemos mais ou menos o mesmo trabalho.”
